Saturday, March 31, 2007

Só a morte pode decifrar
tipos certos de inocência:
a dor



PRAZER


Num primeiro olhar de encontro
O outro em mim no outro
Quando faço amor
o meu falo
fala por mim




O falo é uma linguagem
viável
logo possível
A flor diz
a mão que a sustenta
o diálogo suspenso
com a outra mão



O falar é um fazer
PRESSÁGIO


As ilusões arrancam-se das imagens
nunca dos próprios objectos




Toda a presença é afirmada
mesmo ausente
esta é a dialéctica do ser

Friday, March 30, 2007

Para quando
rir das palavras?



TEMPO 1


O sujeito da minha consciência
é o tempo
DEDICATÓRIA


À melhor das mães
a cada um de nós



Um ruído
mácula do silêncio
Foi ontem e é hoje
o tempo esse fugaz
A única metafísica possível
é a do tempo que não passa.



PERGUNTA - RESPOSTA


Queres deixar de ser homem?
Usa uma farda
ELEGIA II


Põe mais silêncio
onde só há imagem



Somos homens
só porque temos voz?

Thursday, March 29, 2007

Aproximamo-nos da terra.
Somos.




ELEGIA I


Imagem dos gestos que traçamos
Amadurecemos pelas mãos
Os mortos
são os únicos seres
que não têm medo




Nenhuma busca é tão profunda
como a busca pela amizade
PENSAMENTO 7


Em coisas da poesia
toda a loucura é provável
porque toda a liberdade é possível



Não é o sexo
nem o silêncio
que fazem a mulher ...
ESCRITA


O mais importante
é o instante
Da leitura se faz ideia
Do despertar a compreensão


PENSAMENTO 6


Poesia : preencher o silêncio
do que é realmente importante

Wednesday, March 28, 2007

Com os olhos se fazem palavras
nas vielas do amor
e do mundo


SINAIS


Na ideia se perde a memória
na acção se ganha a vivência
O silêncio é também criador
Digo olhar: e vejo e sei



Em ti
principia
o princípio
de ti
ADIVINHA


Na luz das minhas mãos
se dilui
o lago das minhas realizações



Em cada mulher
existe uma morte silenciosa de homem
Da letra nasceu a dor
Do alfabeto a liberdade




DA DISTÂNCIA


A distância não muda
Muda a perspectiva de a absorver

Tuesday, March 27, 2007

O corpo não é inocente
no entanto
o olhar pode ser distante



A liberdade não se inventa
adquire-se
só a imaginação fabrica
Desconfia de todos aqueles
que falam como os guias turísticos
esses têm o desejo inconsciente
de serem políticos




Como não sabemos quando vamos morrer
é sempre uma incógnita saber
quando a vida
chega à sua segunda metade
Na esperança dos olhos
as curvas do corpo




Não há poesia
na vida militar
O homem é um ser poético por excelência
MURMÚRIO


Não há margens para o poema
nem cume possível para ele
embora tente utiliz ar as suas asas
e vá onde outros ficam no caminho




Não conheço nenhum muro que brilhe
nem nenhuma sala de espera com gente feliz

Monday, March 26, 2007

A vida
nunca estabelece
uma relação unívoca




ORAÇÃO

As mãos juntas
aquecem
os olhos fixos
pois o silêncio bebe a colheita
Repetir todos os queixumes no exílio do tempo
apesar de em todos os corações haver um lamento





Toda a nossa vida
é o conjunto de partes mínimas
que nomeio acontecimentos
Não ligo aos apóstolos
mas penso
em como havemos de tirar
os nossos filhos da cruz





Encontro maravilhado a vida
Apenas dela ter várias cicatrizes
Se conseguirmos falar numa só palavra
seremos felizes
A felicidade consiste nisso
a novidade do encontro






Qualquer resistência é inútil
todas as coisa passam
até o tempo

Sunday, March 25, 2007

INTERLÚDIOS


SAPERE
Saber é saborear




As exposições a que desejo assistir
situam-se na galeria da minha mente
O HOMEM COMEÇA


O homem começa
onde tudo o resto acaba
Não é (ao contrário do que pode parecer)
uma afirmação retórica
ou mesmo dialéctica
é simplesmente
uma afirmação de vida
O homem começa ...
quando a morte é compreensível
quando a paz é sem fim
quando o pão é constante
Quando tudo o resto acaba
fica o diferente ---
a chama da individualidade -- humanidade
NOÇÃO DE REVOLUCIONANTE


Em primeiro lugar
arranjar uma palavra de ordem
Em seguida
e em desafio
gritá-la bem alto
para que não seja esquecido
Para retomar o fôlego
é necessário fazer uma pausa
para rever as tomadas de posição
Segue-se o derrube final
Para concluir todo o processo
dá-se a outros
a hipótese
de desempenhar o mesmo papel
SABEDORIA TRÁGICA


Vivemos!
Aprendemos e amadurecemos
e crescemos no ventre mortal
e quando
os anjos do extermínio
descerem sobre nós
opor-nos-emos à sua marcha
Da mesma maneira
que as unhas crescem dos dedos
e o cabelo do couro cabeludo

Saturday, March 24, 2007

SER --- SOMBRA


Perdi a pena
O sulco da fome divide ---
um cristal
as paredes ao longe
erguem-se
O vale está distante
Que quero eu?
Sombra versus Ser
o único som:
a mensagem não se esgota
na sua linguagem
O SER DO HOMEM COMUM


O homem comum
não sabe da existência: é
Este ser somente
reduz-se a mínimos complexos
É-se por natureza
A arte é por consequência morta
O tempo de anónima violência
O abismo de loucura -- comum!
VIVEMOS ENCOSTADOS


Pálidos e veias azuladas
estamos
vamos sós para casa
olhos esbugalhados
(na maior parte das vezes)
que é feito dos teus beijos?
que é feito da vida?
gelamos ...
TERRA NATAL


As nossas relações
têm um cheiro nauseabundo
já significou algo de sublime
mas para o homem
só interessa ter sono
e dormir
A terra incha
A terra chama
o ardor inicialmente vital
vai-se desvanecendo
luzes prostituem ...

Friday, March 23, 2007

MELANCOLIA


Emudeço
profundamente quando chego
e apesar dos teus lábios
em mim entrarem
o meu tactear agarra cego
Tu e eu
não somos diamantes que vagueiam
quando o sol ri
A SEMENTE EXISTE PARA O NASCER


É verdade
que recuso despertar
ao toque de outro ser
que não seja eu
mas as sementeiras de amor
esperam-me
amadurecendo
tentando traçar o meu caminho
convictamente
mas não derramarei as ribeiras prisioneiras
de mim próprio
para que se saiba
VEM VIAJAR


O bom de toda a instituição
é o seu fim
esta é a verdade
com a qual gosto de viver
O essencial é para ser dito
nada tenho de comum com elas
não há dinheiro algum mais precioso
que qualquer virtude
queres tu vir viajar comigo?
Não te peço para seres o meu guia
basta que sejas generoso de espírito
PALAVRALOGIAS


Numa película de cola
a revolta do fantasma

Na árida garganta
a ordem imaginada

Até ao frio dos ossos
noites quebradas em vão

Ordem de medo como caos
por dispares imagens unânimes

Ordenando as indeterminações
no revolver do anel mágico

Improvisações contra o medo
como imagens mudadas no cosmo

No ouvir começou o ser
Dentro do ser deu-se a ordem

P.S. A Ordem foi ouvida

Thursday, March 22, 2007

O QUE SEI? ... NÃO SEI


Eu sei que sabes o que sei do que sei
Que sabes eu sei o que sei do que sei
O que sei eu sei que sabes do que sei
Do que sei eu sei que sabes o que sei

Eu sei o que sei do que sei que sabes
Que sabes o que sei eu sei do que sei
O que sei eu sei do que sei que sabes
Do que sei o que sei eu sei que sabes

Eu sei do que sei o que sei que sabes
Que sabes do que sei eu sei o que sei
O que sei do que sei eu sei que sabes
Do que sei que sabes eu sei o que sei

Eu sei o que sei que sabes do que sei
Que sabes eu sei do que sei o que sei
O que sei que sabes eu sei do que sei
Do que sei eu sei o que sei que sabes

Eu sei do que sei que sabes o que sei
Que sabes o que sei do que sei eu sei
O que sei do que sei que sabes eu sei
Do que sei o que sei que sabes eu sei


Eu sei que sabes do que sei o que sei
Que sabes do que sei o que sei eu sei
O que sei que sabes do que sei eu sei
Do que sei que sabes o que sei eu sei



P.S. Eu não sei que não sabes
o que não sei do que não sei
LUSITÂNIA


Lusitânia, decidi-me finalmente
a vir falar contigo
há muito que deixaste de decidir
sobre as tuas próprias peugadas
Lusitânia andas perdida
desde os tempos
em que caminhavas devotamente para as Índias.
Mas agora decidi finalmente
a vir falar contigo
o poeta desceu à cidade
se assim quiseres interpretar
Não penses que te vou dar tudo
porque não te dou nada
Lusitânia
quando é que encontras o teu próprio caminho?
quando é que pensas primeiro em ti
e só depois nos outros?
Lusitânia escuta
Nunca poderás contar com esses “outros”.
O meu conselho será valioso
Lusitânia acredita
reforma os teus políticos
ouvistr bem ---
põe os políticos de lado
acaba com a chamada classe política
não podes contar com eles para nada
a não ser viverem à tua custa!
A propósito Lusitânia
onde estão os 33 mil que te sacaram
e que nunca apareceram?
Onde estão os 33 mil
que te sacam todos os dias
(com a inflacção representam já 108 mil)
e tu não dás por nada?
Lusitânia
Quando é que farás a paz
com os teus irmãos de língua?
Exploraste-os durante séculos
e agora viras-lhes as costas?
Lusitânia acredita
são os políticos
os políticos e os tropas
Lusitânia escuta-me
andam todos a viver à tua custa!
Porque estão as tuas bibliotecas vazias?
Porque pedincham os teus filhos
um bocado de pão?
Lusitânia
quando é que serás digna
dos teus poetas e dos teus operários?
Lusitânia
quando pararás de dar cabo
da vida dos teus mancebos?
quando é que te fartas da CEE
te mandar à merda?
Onde está a tua verdadeira vocação?
Lusitânia escuta
espero uma resposta
quando é que me responderás?
Quando é libertarás os teus presos políticos?
quando é que te borifas na NATO
e te tornas independente?
e o grande capital?
Pensas que ele te poderá ajudar?
As suas promessas duram já 600 anos.
Por quanto tempo mais acreditarás nele?
Por quanto tempo tudo isto vai durar?
Quando é que deitarás mãos à obra?
Se precisares de ajuda
conta comigo.
O QUE É -- É UMA OPÇÃO


Lançaste fogo ao sol numa manhã de inverno
e o relógio iluminado da lua bateu as 10 horas
Só o ser da poesia constitui o real
o real é o único que tem valor
o importante é uma metafísica da poética
NO DIA DO JUÍZO FINAL


Hás-de pensar que aconteceu acidental
no dia do holocausto
perguntarás se é uma alucinação
mas não haverá ninguém preocupado
em responder-te
Nesse dia finalmente repararás
que o supermercado da esquina
não abrirá às 9 horas
Nem ninguém te dará ironicamente
os bons dias
Diante do espelho parecerás um fantasma
nessa altura esquecerás
“as cenas mágicas dentro da mina de ouro”
O homem é um ser social
vive na pólis
mas apesar de tudo é um dasein.

Wednesday, March 21, 2007

URGENTEMENTE AS PALAVRAS


E há as palavras!
Há as palavras para amar e para matar
Há as palavras para dizer a para agir
Há as palavras da sabedoria
e há as da demagogia
por exemplo as dos políticos
vocês sabem, não é?
E há naturalmente aqueles que enriquecem
com palavras
com palavras se lê o real
se desmistifica e se mitifica a vida
Há palavras que precisam ser ditas
para dar mais vida à vida
e são essas palavras
que na tua vivência quotidiana
te ajudam a viver.
VOLTAREI


Voltarei
mesmo que tenhas de esperar muito
Voltarei sempre
Lembras-te quando estavas à minha espera?
Saber esperar é uma virtude
só por isso guardarei a tua fotografia
no meu quarto
guardada pelo historiador
À procura da tua especificidade
Voltarei
SEREMOS COMO A ESTRELA CADENTE


Não sei onde fica o Norte
mas isso não interessa
estou aqui
e aqui vou ficar
O mundo constroi-se
na minha presença
será aqui
que a palavra terá o poder do fogo
O que me atormenta
não tem nada de especial
a não ser a sua temporalidade
De qualquer maneira
a vida tem de ser vivida
todo o ser que nasce
está condenado a viver
a sua vida
Não seremos o meteorito que cai
mas seremos o fogo que nele habita
SE ME SINTO BEM ...


Ouçamos os estilhaços
que a história faz ao longo da sua vivência
O pânico que se espalhou
O tenor que se mostrou
e o caminho para a felicidade
que não se encontrou
felicidade só pode ser sinónimo
de sentir-se bem
Sou feliz se me sinto bem
Neste sentido a felicidade é alcansável
Poderemos tornar em versos de poema
a nossa vivência

Tuesday, March 20, 2007

SINTONIA COM O MUNDO


Não há oásis nem desertos
Só vivências
Não trocamos palavras
nem oferecemos estrelas cadentes
A verdade científica das coisas
é o verso do real
PROFECIA


Fui profético
a cidade foi transformada
Consegues ver o mundo sem as suas capas?
a arquitectura desvaneceu-se
mas poderás dizer que estás só?
COMO SE ESTA FOSSE A LÓGICA DA BATATA


Há quem cheire a estrume
Há quem devia ser servido em conserva
O mundo em que vivemos
é o mundo que temos
como se esta fosse a lógica da batata
Nos ecos de fumo
da minha garganta
Não visualizo
senão a civilização nuclear ocidental
Será um acidente?
Os deste mundo pedem outro mundo
uma outra gente
um outro presente
POÉMICA


A poesia é a química da palavra
Daí que o seu conceito chave
seja transformação
Como a poesia não tem parentesco
com a ciência
(pelo menos com a que se pratica hoje)
A ciência possui um discurso autónomo
Será melhor aparentá-la
com a alquimia
Daí que se levanta
a seguinte questão
Qual é a pedra filosofal
desta Poémica?

Monday, March 19, 2007

INVÁLIDOS


Quando do dilúvio escaparemos?
continuaremos a circular pela cidade inválidos
e não será necessário voarmos pelos céus
o cordão umbilçical não foi cortado
leva-nos directamente ao hospício
entraremos em curto-circuito
quando lermos os poetas da vida?


P.S. As divindades populares não estarão presentes
encontrar-se-ão no Olimpo a preparar o carnaval
LEVO A VIDA


Viver a vida não cabe
dentro dos parâmetros espacio-temporais
uma palpitação que se reflecte
uma eternidade que se espia
Fomos feitos para viver
dentro de tempos abertos
não há espaços secretos
Todos eles à minha volta se cerram
Não há magias
as minhas mãos estão nuas
TRANS-POSIÇÃO


O ser está aí
no cume da minha vida
não o conheço
mas como ajo
dele participo
dele sou
... ...
Desço com a tarde
mas sou ainda um aprendiz
SITUAÇÃO --- TRANSFORMAÇÃO


Estaremos os dois solitários
e passaremos por ruas desertas
sombra com sombra
sonhando com a perdida vida
A nossa terra está coberta de mentira
Os jovens só pensam não tranformam
Quanto tempo precisaremos de esperar pela revolução
As portas que deviam abrir a passagem
fecham-se à nossa volta
O manicómio é ainda o lugar
que me permite um certo refúgio
Não pretendo continuar a andar na lixeira
para ganhar um lugar neste céu.

Sunday, March 18, 2007

O POEMA ANGÉLICO


Quando escreverei o poema angélico?
Quando é que definirei as coisas?
estou a falar para mim
ninguém tem nada a ver com isto
vou ajudar-me loucamente de boa vontade
terá que ser de qualquer maneira
não apagarei a luz sem esclarecer duas coisas
não desejo ser presidente de coisa alguma
nem desejo possuir a lua
Para maior descanso de todos
aviso que não tenho visões místicas
nem sei o que é isso
mas penso que não é caso para consultar o psicanalista
estou a falar para mim
mas dirijo-me a ti
não estou a ser sinistro nem obsessivo
mas digo-te uma coisa
Não tentes definir as coisas
não escrevas o poema angélico
Nada tem importância -- vive só!
O SONHO


Iremos contra o muro
acordando o nosso próprio ruído
e devoraremos o universo
acordaremos
e veremos que foi um sonho
deixaremos de fazer as orações aos nossos fantasmas
e construíremos um novo tipo de homem
PARA A OBRA


Não seria nada doce
se a loucura me viesse
A voz é esplendida
e a mente deve ressoar
nestes momentos
de formas mudas
porque a terra
essa
continua a trabalhar
para tentar sobreviver
trata-se no entanto
de a transformar
A UM INSTANTE

Há em cada instante
um instante a mais
que não é captado
uma noite máxima
de som quente
o interior da canção
numa língua inexprimível

Saturday, March 17, 2007

NÃO É EM VÃO

Não há carga dolorosa
que não saiba a separação
em madrugada fria de angústia
Não vale a pena a solidão
No entanto guardo o sorriso
convencido que ainda poderá vir a ser preciso
MAIS DO QUE TUDO


Venceremos a mortalidade
quando o dia estiver mais belo
em universos frios
as luzes são pálidas
mas para ti
a cidade não brilhará
pois em ruas de asfalto
não poderei encontrar as tuas pegadas
mesmo que venhas encontrar-te comigo
sem cansaço e descalça
DESAPRENDEMOS


Ao longo da vida
desaprendemos sobre muitas coisas
coisas reais sem dúvida
erguer ao apelo
é a mais significativa
mas quando Hiroshima chora
que dia iluminar?
quando há falsidade
não vale a pena da terra falar
Então falar do céu
que não é meu
a um simples desejo?
Não nos cansemos de viver
que começaremos a pedir terra outra vez
PELA ESCADA


Asfixiamos e consumimo-nos
bebemos toda a nossa água
mas não devemos morrer no primeiro acto
porque não vamos cair
mas se olharmos à volta
assombro!
Levantamo-nos
Subimo-nos
e não estamos só
a emitar os movimentos da vida

Friday, March 16, 2007

NÃO TE FECHES NA CAVERNA


Não deixes de perguntar
quem tu és
isso é fundamental
não deixes que os professores
tratem disso
Se estamos aqui
por algum motivo é
Não vale a pena fechares a porta
a chuva continuará a cair lá fora
QUE SE ABRA A PORTA


Há sempre um restar de mim
Não evites as palavras duras
Há sempre um restar de mim
recordo o tempo das sensações de miragem
Há sempre um restar de mim
faço-te sinais com a esperança e a certeza
CONTINIUM


Se tens a visão do futuro
pior do que o medo do caos
num vago desespero
acalentarás um sonho
sem mais espaços a conquistar
com o tempo já dominado
trata-se só de tratar da mente
Diferença repetitiva...
ALASTRAR


A vivência
está na relação dialéctica
entre a minha pessoa
e todas as coisas que me rodeiam
o equilíbrio não é admitido
o extremo está na extremidade

Thursday, March 15, 2007

SINTONIZAR


Sou dos que ficam com o sono agitado
com a verdade científica das coisas
mas quando se trata da essência
como ficar?
É tudo uma questão
de sintonizar o mundo
DAS BRUMAS


A loucura moderna excêntrica
neste reino da estupidez
tem o seu lugar garantido
e a minha voz
nada tem aqui a dizer
tudo isto não faz parte
dos meus sonhos
mas da realidade
e no entanto por mim
aqui estou
ACONTECER


Há momentos
em que não há palavras a dizer
o acto vive por si próprio
como tal calo-me
e não continuo este monólogo
DO PÃO QUE NÃO TEMOS


Não há maneira de matar a fome
a não ser com pão
mas e aquela fome que todos temos
mesmo inconscientemente
e que por muito pão
que se tenha
continua a roer?

Wednesday, March 14, 2007

INCENDIÁRIO


A vibração da tua voz
incendeia
o meu sol
num dilúvio
de pequenas vidas
por sobre a liberdade
espalhada em volta
em fragmentos imperceptíveis
de silêncio explosivo
o eco navega no absoluto
TESTEMUNHO DO BUSCAR


O meu vulto
completa o mundo todo
Sei o dia
busco-me
é a história
a repetição do acto universal
TRIBUTO A MIM


A longa subida
tem que ser feita passo a passo
a certeza reside nisso
Identidade
Tudo o mais é verso
Diferença
respirar é o único tributo
que pagamos à vida
ACTO DE AMAR


Que o acto seja belo ou não
é uma questão secundária
mas que ele
se sente vibrar
na imensidão do corpo
da carne que é movimento
do intento que é vida transformadora
é na verdade uma questão secundária
que o acto seja belo ou não

Tuesday, March 13, 2007

DA PEDRA EM QUE TE VEJO


São poucas as mãos abertas que encontro
de flor firmeza
no arco-íris do nosso tempo
????
Persisto
O hábito das coisas
está nelas próprias
ou no sujeito que as apreende?
NO JOGO DA RELAÇÃO


Vejo-me no teu ver
na constância desse sono que me acolhe
a tua mão está aberta
Dou esse tributo
falo de ti
Daí que não haja perseguições
apago o lume
e no teu ver em que me vejo
vejo-te
A MINHA FONTE


Revolteio as palavras
quando as deposito
em qualquer parte
e deixam vestígios
inacreditavelmente
alguém sangra de verdade
QUESTÃO ANTIGA


Que supultura dar ao pensar?
Vejamos
com a tormenta perdemo-nos
damos o silêncio à palavra?
O país é isto
está aqui
ocupemo-nos dele
e comecemos a dar voz
a quem não a tem

Monday, March 12, 2007

AS PALAVRAS


Ver vir-te
Ver-te vir
esta é a estadia nas palavras
forma rudimentar de morte?
não
sem ser assunto urgente
cede a raciocínios
pois o meio-dia
já não me surpreende
LIQUEFACÇÃO


Nada decorre da permanência
consistente
estilhaçada
A névoa envolve
sulca o inumerável
por detrás do poema
DE MUDANÇA


Muda alguma coisa com a escrita?
pois claro
morrias e vives
Que se passa entretanto?
eras e continuas sendo
O ÚNICO PROBLEMA



L E
R
D D R
E
E A
J B S
E

Sunday, March 11, 2007

ESQUEMA


Não há memória na poesia
simbologia e desespero
concerteza -- luz
casa são quartos abertos
palavras que ardem
chuva secreta
SEM MISTÉRIO


Nunca quatro paredes
são o meu ser
nelas não canto
nelas não dou
e recebo a custo
este é o perfil da incógnita
PÊNDULO


O verbo é naturalmente ser
substância
que é distância
substantivo aparentado
tocar
rigor no encontro
com o outro
precipício no verso
ASSUMO


O companheiro esse inventa-se
depois
a terra
o abraço
o assumir as mãos
e as faces duma explosão
matéria futura?

Saturday, March 10, 2007

O TEMPO CONTRA O TEMPO














Viver só a vida
o resto não conta
TRANSPIRAÇÃO


Dizemo-las
mas não as queremos compreender
e no entanto
elas anunciam a aurora
A verdade é feita de palavras
BROTAR


Sou palavra e sou corpo
e espalho o pensar libertário
e anuncio as possibilidades renovadas
digo que o sol
não deve morrer
BARCA DE VIVAS CHAMAS


Distribuo-te o reflexo
da presença do eu
a batalha acende-se límpida
como a menina do olho
No peito abre-se
uma estrela branca
Desfolhas a aurora
e agora queres selar
o relâmpago

Friday, March 09, 2007

VISITA


Face que olha a aurora
que se abre
no grande fluxo do oceano
e flutua
sob o ar violento
atiro-te a alegria
do céu
que sobe por degraus gastos
Alto! sou inovador do tempo
caminhei pelo gemido claro
Não há poder
que me leve
à casa das bonecas
A REDE METIDA NA GARGANTA


Crescem as barbas
por entre as mãos cantando
pálidas
remando
para fugir às redes
sem quererem fugir
e falam de luz
e falam de sol
e falam
sem saberem que terra desejam
A FORMA DE ESTAR


A qualidade da acção
revela-se no jogo
maquinamos o universo
mas sentimo-nos absurdos
perante o espelho
de nada em tudo
estamos
pelo prazer de estar
IMOBILIDADE

Retomamos a imagem
do jogo
no jogo
a brilhar pelo movimento
experimentem
a emergir
o ar
o verbo primário
a acção
o apagar e o recomeçar
o absurdo que um espelho
não tem

Thursday, March 08, 2007

ABSOLUTIZAÇÃO


Não é urgente a figura absoluta
que jogo é este?
que se salva?
que é?
estrançando dançamos a seiva
quando alguém realmente se transforma
matéria de alucinação
linguagem posta
pela sua verdade
SUSPENSÃO

Propriamente
o movimento procura o corpo
permissivo
estanca e escoa
com o vento
o corpo é o sítio onde se nasce
CERCANIAS


Vejamos a biografia da vida
tempo
ser
nada
vocabulário em pánico
às vezes alguém ao passar debruça-se
alfabeto
instrumento
imagens às épocas tradição
tudo está no sítio
arte longa
METEORO


Parecemos meteoros
como se fosse simples
e a cabeça desaparecesse
e fervemos
e fazemos
e somos
onde está o senso arcaico da paixão?
Fausto e fausto
roda o corpo
e temos limpidez

Wednesday, March 07, 2007

WALL


A paisagem contempla a parede
sobe um soluço dos centros gravitacionais
do ser considerado bicho
Clarão
a água vermelha escoa-se
pelas fendas dos orgãos estilhaçados
resumindo
luz própria
tudo brilha
FOGUEIRA


Os quadros vergam
numa camisa de forças
Em cima
a luz apanha a mão
A dança guia a montanha
o clarão é
CORPO

Corpo é corpo
e a mente deriva daí
sei que o corpo é uma seiva
importa não perder-lhe o caminho
Dança
a certeza de uma estrela
e essa força é universal
e por isso ela é minha
DE UM CANTO


De um canto das palavras
me vejo
eu, ou o reflexo delas?
Que voragem é essa
que me torna mais rápido?
À minha frente
só as mãos
Aproveitemo-las
e que não sejam só imagem

Tuesday, March 06, 2007

VISIONAMENTO


De braços abertos
máxima visão
rosto
tudo me toca
Prodígio?
Magnetismo
Trespasso a ferida com o som
coisa que dança
arpão?
casulo
SEGUIR


Criamos o perfume
para nos ocultarmos
desfolhamos o corpo
ritmadamente
alheio a tudo
enleado no som serial sério
olhos postos na terra
com as mãos postas
de quem te espera
VOZ NATURAL


Pelos olhos nunca esperamos em vão
fonte onde as casas passam
não te falo de mim
embora a minha voz seja normal
o corpo não é toda a saudade
MELODIA


Melodia é o que sentimos
juncos podres às vezes
anjos de pedra outras
no limiar das coisas
ousamos com o gesto
linha a linha
pulsar

Monday, March 05, 2007

MADURO


Não há palavras maduras
na sua reinvenção
os horizontes não se bebem
sentem-se com o desejo de os beber
o sangue não jorra das fontes
como quem bebe a madrugada
ESCORRENDO


De rosto aberto e calvo
passa lendas e mitos
sob mantos de lua gelada
escorre pelos telhados
o milagre de cada dia -- ser dia
QUE DIREMOS?


Que diremos
quando o céu se fecha
e ouvimos o dia
desprender-se
na lembrança doutra luz?
Seria luz
ou o poema
que entra no Verão?
RESISTÊNCIA


Conheço-te
como a língua conhece os dentes
não há noites a quebrar
o que quer que seja
não há apelo a fazer
só a escolha
a matina do dia a erguer

Sunday, March 04, 2007

ARDOR


A palavra revelação -- abertura
nascência mais próxima
Claridade
escuto os passos
em passo passeando
impaciente
ENTRE LÁBIOS


O que sabemos
de cada um dos outros
foi só o que nos foi dado
O que sei de ti
é só o que te revelo
RASTO


Lembra-te
da escrita da terra
no soalho do teu corpo
Seria só vento?
Seria só ser?
ou a compreensão da palavra
no tempo maduro do colher?
ODE


Sem piedade (para quê)
lê os versos
cansado de esperar
pois sabes que só hoje vives
a espera é violenta
mas se ficares de certeza que saberás

Saturday, March 03, 2007

TEMPO VERDE


Há sempre mais céu
e sempre mais som
que a natural sede
agora
que estamos na nossa pura
e sempre permanência
ESTOU AQUI


Gloriosamente
tudo no seu lugar
lugar natural
descansado
escrevo
MÃOS QUE PROCURAM


Sou um ser de saúde
marcada
na memória colorida
dum tempo acabado
de passar
A minha infância
foi esse tempo
a saúde foi o que ficou
saudavelmente
VIAGEM


O barco não corta o horizonte
da mesma maneira que
não somos nós que fazemos
o nosso futuro
mas o tempo
está enevoado

Friday, March 02, 2007

BEBER


É não provocar
antes partir
memória
levanto o braço
e bebo a visita
a outra terra
Que dizer?
hei-de escrever
POR ONDE VOU


Proponho-me marcar
as orlas dilatadas
urdidas
traçadas
onde me fruo
e alcanço
de dentro
não há força
nem quebra
PENSAMENTO


Não me detenho
desnecessário apelo
memória amolentada
pela tua boca
invólucro
não são ocas
estas palavras
são dialécticas
UM PLENO DIA


É uma noz
Vértice
é um tronco
como um estuário
subscrevo
tudo o que disse

Thursday, March 01, 2007

COROA


Ali se é renascido
ali se é cor
renascida
convertida em espaço
que é palavra
que é coberta
que é dentro
pulso parede
arremesso finalmente
a questão é inseparável
O FAZER


Por entre a palavra
no deslizar
pela fenda bruta
se conta a história
não há verdade
só inércia
da vontade
e onde está a lógica?
no assumir
o desmoronamento
UNIÃO


No meu lugar
sempre
no meu lugar
serei sempre eu a reinar
jubilamente
serei a presença
admitida
INCÊNDIO POSSÍVEL


O gesto copular
pode ser interpretado
como muralha
o rosto decompõe
um ideal de essência
que gemidos
testemunham