Wednesday, January 31, 2007

APERCEBÊNCIA


Limito-me a assinalar
a escrita com o papel
que fala
enquanto sei o poema
que é o resto
é um momento
como este momento
sem bater à porta
RIO E MARÉ


Febril
como a madrugada
metamorfoseada em tempo
círculos
verso delírios
o resto é sempre
oscilações
AS COISAS QUE SURGIRÃO


As coisas
não surgem
sem o esforço das mãos
este poema
um crime
a ponte
A TERRA QUENTE


A única coisa
que permanece
é a música e o vinho
o rio que percorro
os ombros
a seiva que penetra
o perfil de pedra
o ar

Tuesday, January 30, 2007

TOMO


Se juntam e se separam
as palavras
outras coisas restam
mas são as palavras
que lhes dão sentidos
FALAMOS


A terra transcrita
real
rumor de ser pedra
para ouvirmos
respirar
ACESO


Os olhos fabricam
a realidade que desejam
aí a crítica
A terra enche-se
os homens enchem-se
À FLOR DA TERRA


À flor da terra
tudo o que é excessivo
canta
tudo o que é concentrado
ondula
tudo o resto é
unânime

Monday, January 29, 2007

ZONA


Passagem
como dedo
Vários pontos
Brecha
perpassar a sede
pela escrita
a única carícia
extra corpo
A TERRA É PRÓXIMA


As marcas subsistem
o fundo e o cimo
as linhas das imagens
que temos
na textura do corpo
TRONCO


O corpo é pleno na àgua
na àgua que te dou
o corpo que é o teu
ESPESSURA


A escrita
é uma forma de palavras
escrevo
o que não vejo
vendo

Sunday, January 28, 2007

SEDE


Escrever para sentir
quando o punho não palpita
de si mesmo se ergue
e se abate sobre o papel
rolando pelas linhas
soçobrando incêndios
a palavra rompe
LENTIDÃO


Não há só clamor
evidência
respiração?
que respira a noite suburbana?
Que força hána escrita do silêncio?
POEMA


O poema
surge sempre
da vontade de viver
Tu queres e continua
ele intacto vive
XVIII


A liberdade é confusa e abstracta
os heróis voltam ao escuro tacteando
A vida é uma celebração

Saturday, January 27, 2007

XVI


Ensino-me a respirar
por entre as sombras
A mente que vai em busca
de outros sonhos
A POESIA É!


Afirmação de um desejo
De uma vontade
De um poder
Presente vivo
Integrante
Constante
Humanidade cultural
Espírito
Idealização do futuro
Construção
Em revolta
À volta
Da vida
Em génese...
A poesia é!
Pois como poderia, não ser?
A CELEBRAÇÃO DA VIDA


Vida!
Partículas de abundância celestial
Explosões em mistérios de fogo
Deambulações num despertar passivo
Numa estrada

Vida!
Cogitações num cosmo vivo de sonho
Numa quietude transcendental humana
Semente de vontade ideia a pulsar
Num caminho

Canto no tempo a minha vida
Sou a voz que me desejo
Numa estrada obscura
Farrapos de sombra um canto à noite
Abismo num cativeiro constante
Um arder disperso

Vida!
Crença em formas desconcertadas
Imaginação viva de espanto morto
Passagem irreal por caminhos novos
Numa nova via

Vida!
Respiração salutar num momento de grandeza
Sinto o contágio do meu ego vivo
Numa imagem morta um tormento presente
Um desespero
Num acaso doentio numa tormenta
Num mundo de cavernas soltas
Arremesso de onda
Confusão de sombras em torvelinhos
Divido o passado no fundo do pensamento
Num intenso espanto

Sou o que não sei

Tenho pensamentos soltos
De preconceitos vivos
Em imagens
Espirais em sendas fragmentadas
Pelo poder do meu ego
Num cativeiro

Só me identifico com o homem
Que existe dentro de mim
Quando manifesto
A minha vontade de querer
O que só o sonho me pode dar
Não estou só...

O homem define-se
Pela sua pluridimensionalidade
Nas multiplicidades das suas atitudes
Que determinam uma orientação existencial
Ambígua e multifacetada

Eis o meu modo
Eis a minha forma
O meu ser
A minha vida
E o meu pensamento
Estou vivo
No corpo em que estou
Açambarco todo o conhecimento
Que me for possível
Estou presente
Estou vivo
Sou!

Sou o que não sei

Numa imortal imagem de vida
Luz de ouro em cabelos secretos
Mistérios ancestrais dum povo novo
Ergo os meus olhos para o teu nirvana
Acho-te vida e celebro este momento

Tua vida em mim
Num momento constante
Quero o que só o sonho me pode dar
Necessito de uma causa para tocar a grandeza

No ápice de vida pura
Que vivo
Tu és o meu nirvana
Infinita a amplitude do meu pensamento

Sou o que não sei

A vida é a idealização
Da realidade
Por isso a celebro
Por isso a vivo
No momento da minha vida
Sei que não sabia
Que estava a ser...


Celebro a vida
Sou existir
Acredito numa idealidade possível
A minha...
Que em moldes relativos
Se torna absoluta

Pela vida fora criado
Sempre nunca bem nascido
Aos povos do Universo
À Humanidade em verso
Aqui disperso
Estou abandonado

Num arrazante diálogo
Num abismo sem devaneios
Numa sombra
Ausência de luz em castelos de fogo
Avisto um horizonte de introspecções novas
Numa montanha de ilusões palpáveis

Sou o que não sei

Numa noite de luz celeste
Se vive o dia encoberto
Num dia de modos e formas
Se vive a noite um desejo

Sou o todo
Que me interessa
A vida que celebro
E tudo o mais
É um horizonte
Que se perde numa manhã de nevoeiro
Eu sou o todo
E o mais é nada

Imagino um universo enexistente
Dentro do meu ser
Cada uma das minhas partes
É igual ao meu todo
Sou primo do Aleph
Contemplo-me para além do infinito

Sou o que não sei

Quero o que só o sonho me pode dar
Necessito de uma causa para tocar a grandeza

Profeta da imagem
O túnel que nos conduz a ti
É o da existência
Olhos que vêm estrelas cintilantes
Ouvindo histórias fantásticas

Profeta da luz
Vibrações emanas até nós
A pura escolha
Está dependendo do teu olhar
Enquanto ouvimos histórias fantásticas

Até ao sol
Deixa o meu pensamento dormir
Vivo a madrugada
Dum novo dia
Aonde os meus olhos
Para ver a tua face
Num secreto som que me silencia...

Entristeço-me quando não te vejo
Celebro-te no meu ser
Num desafogo único

Então ouço um milhão de vozes
Contando histórias de crianças
Sabendo o segredo da tua vida
Apesar de não estares presente

Em neblina áspera que sufoca a vida
Vejo-me sacudido e sofro
Numa visão solitária

Então ouço um milhão de vozes
Contando histórias de crianças
Numa eminência e num sopro
Que despertam para a tua luz

Sou o que não sei

Procuro a floresta de sol
No silêncio das estações
Há qualquer coisa que se move
Aqui jaz um dia longo

Então num momento
De esperança máxima
Descubro o sentido supremo
Da minha celebração

A vida abrange-me
Só sou o que não sei

Subo à montanha da vida
Sou um visionário
O que te digo
É o resumo do meu pensamento
Aquilo que te ofereço
É a globalidade do meu ser
E da minha liberdade
Alfa e Ómega


Não importa que haja corações penhorados
seremos sempre testemunha ocular
e na presença da Noite
em ténues fios mesmo declarados
existirá um canto silencioso
como que uma iniciação ao canto
apesar dos interlúdios
que clamam por cantos para uma nova sociedade

Friday, January 26, 2007

ARDENTEMENTE

Que fizemos nós das palavras
agora que parece que as esgotamos
deita-te comigo
da cintura aos joelhos
e pensemos
nesta hermenêutica estafada
entre lábios
e entre toda a música
RUMOR

Deixar a mão descer pelo declive
para o interior do corpo
pouco importa o nome
acto é acto
cada movimento é mudança
cada palavra
a descoberta da boca
QUEM RECOLHE O SILÊNCIO?

Quando nos calamos
desaba o silêncio
um silêncio sem ti
nas minhas mãos
ouço a tua música
Federamos os nossos corpos
o nosso encontro voa
CAMPO

Não sei se é silêncio
não sei se é grito
é instante
e isso é importante
o dia cresce
as mãos tecem a vida

Thursday, January 25, 2007

CLARIDADE

Corpo é arquitectura
limite é espessura
reconhecimento é juventude
Aqui estão as mãos
que tropeçam
na espessura da tua juventude arquitectural
PROCURO-TE

Há quem procure a ternura súbita
a música por nascer
ou coisas mais simples
mas eu procuro-te
Há quem foge de um corpo estendido
rosto cravado na luz
e eu aí procuro-te
Há quem se canse
de ser o dia inteiro
afogado no bosque
mas eu sempre procuro-te
Há quem prometa viagens ao paraíso
sem saber onde ele fica
eu só procuro-te
Há quem pretenda flutuar sem o saber
eu procuro-te
Há quem se queira matar
com espadas de silêncio
mas eu mais uma vez procuro-te
No procurar-te não me esqueço
é evidente que há vozes que me chamam
no entanto
aguardo a madrugada
e sei
que para ser
tenho que ir sendo
CENTRO

Como o centro
o centro do silêncio
o modo da idade
não cabe neste espaço
nome é só nome
culpa pode ser paisagem
silêncio será palavra?
Rosto nunca é abolição
centelha é sopro
cada coisa é a sua própria metáfora
SUBMERSÃO

A solidão que por vezes
nos perpassa
é o fim da palavra
encravada na garganta

Wednesday, January 24, 2007

REPOUSO

Neste tempo
Há asas submersas
vivências em medo
perdas de verdade
revelações
no limite
chamas
FUNDIÇÃO

Onde se encontra
a noite sussurrante
a totalidade apenas existe
o sonho seria ver isto nos teus olhos
O ROSTO E A MÃO

Há momentos em que o coração
é de ferro fundido
Não há consciência que o moleste
e vai-se direito á felicidade
onde há sempre necessidade de abraçar alguém
mas as mãos nada encontram
são as primeiras vítimas
Não há lágrima que brote do ferro
AS MODALIDADES DO AMOR

É verdade que o amor
não é necessariamente uma vida
que é preciso viver a dois
e se o amor não é de certeza
suspiros em poltrona estofada
outras modalidades reais
gostaria de destrinçar
para generalizar esta conversa
e para o saber apreciar
de um modo universal

Tuesday, January 23, 2007

RELAÇÃO

Costumas ter o olhar disperso
como quem nada percebe
mostras-me
o assobio que não sabes dar
mas isso não importa
afagas o amor que esperas de mim
enquanto leio os upanishads
nos dias de ócio
Quero ver até onde vai este jogo
o teu sorriso
a minha paciência
BERRO HISTÓRICO

Entre o teu mar aberto
Um berro histórico
e caio no esquecimento
Se houvesse anjos revolucionários
de que cor pensas que seria
o seu estandarte?
ATESTADO DE ÓBITO

Nunca vi o meu atestado de óbito
São mesquinhices que não me interessam
É urgente
a emoção pura e simples
de fazer viagens para paragens mais longínquas
e de derreter impressões sobre a memória
OS CÁLCULOS DO ESPAÇO QUE OCUPO

Nunca fiz os cálculos do espaço que ocupo
Física naturalmente
e quando falo em espaço
falo no das três dimensões
Tudo o resto é ausência
para os meus sentidos
O dia da minha morte
não será anunciado
por meio de carta
Não costumo por o código postal

Monday, January 22, 2007

APRENDEREMOS

Aprenderemos a dominar o infortúnio
a viver duas vezes
a não correr atrás de agradecimentos
nem a procurar a consolação
Tomaremos o mundo nas mãos
e eventualmente poderemos ser felizes
UM BICHO ESTRANHO

Ontem apresentaram-me um bicho estranho
Disseram-me que era um objector de consciência
Pensei para mim
Como é possível nos nossos dias
ser objector do que quer que seja?
Aparentemente era um ser normal
tinha duas pernas
dois braços
tronco
cabeça
Fisiologicamente funcionava como um ser humano
Falei com ele
e qual o meu espanto
que em conversa mostrou os habituais problemas existenciais
que têm os seres humanos
Bom, mas apesar de tudo era e sou
um objector de consciência
objectar contra a guerra
objectar contra as armas
objectar contra as forças armadas
objectar em última instância
contra o poder instituído
e contra qualquer instituição de poder
objectar contra o mito da liberdade
objectar pela liberdade
TERRA SEM RAÍZES

Carros eléctricos
sobre pedras soltas
em tangentes sem tempo
prolongando por mais uma geração
um bocado de osso, uma pedra
propagandeada em cartazes alucinantes
contra os conspiradores da rotação.
Numa terra baldia
unindo os tambores, os tantãs de serviços
atélite de veneração, da vida
Poderei sacudir-te garganta e voz
amarrar-te ao Mastro que construíste
arruinar a colheita de maçã
Poderei aquecer o conhecimento
que tens sobre a vida
Não te esqueças que eu
vivi a faustosa civilização
engoli sem mastigar
a sua literatura açucarada
O tempo estava frio
e ele ergueu-se dum sofá morto"
E vou desmembrar grandes temas" - disse
sem enlouquecer no vazio
e sem cair na confissão
duma rua com um buraco no casaco velho do nevoeiro
E a filantropia que está no auditório
e que nos salpica de ácido dexirubonucleico?
ESTA MANHÃ

O grito raspou o silêncio
sou aquele que julgaste perdido
Os vidros embaciados
penetram-me até ao cérebro
Nunca cosi a boca de noite
A única linguagem insultante
que adoro ouvir
é a das crianças ao nascer

Sunday, January 21, 2007

SEM ARTICULAÇÕES

Já sentiste náusea do refúgio?
Já pensaste sobre a apatia a indiferença destas pessoas?
Será da crise?
Será que entre nós haverá um montão de contradições?
Será que os aprendizes de filosofia estão isolados?
O necessário não me é suficiente
A vida vive-se agora
Não quero articulações, quero o real
Quero sentir não caber dentro dos meus limites
Não quero ser fixado em celulóide,
nem ser besuntado numa tela
Quero cantar a verdade
Pois a verdade é o real! Mas que real?
CASO TENHAS ALGUMA VEZ DITO

Nunca as minhas respostas foram suaves
na verdade tenho sempre um regresso discreto
E possível reconstruir o passado
aprender a cartilha do medo
nos olhos de cada um
Não sei se já
alguma vez disseste silêncio
Não sei se já
alguma vez evitaste pensar morto
Não sei se já
alguma vez inquiriste um ponto neutro da vida
um morto é o ser mais próximo da inocência?
Quem mastigar a minha poesia
que não veja abismos
mas somente chamas
CONFISSÃO I

Estou preparado
para beijar o teu amor
e o teu infinito
e que o esquecimento e a suspeita
o meu ser quebre
na pura exactidão
deste momento
o silêncio há-de ser melhor
que este destino...
AMANHÃ QUANDO FOR TER CONTIGO

Amanhã quando for ter contigo
os políticos da nossa cidade
serão enviados para o Júlio de Matos
Amanhã quando for ter contigo
Veremos os chimpanzés do jardim zoológico
passearem no Rossio
Os polícias serão enviados
a fazer cursos de reciclagem nos jardins-escola
Amanhã quando for ter contigo
Os camiões do exército
serão postos à disposição do ministério dos transportes
para reforçarem as frotas da carris e da rodoviária
A associação dos touros
promoverá uma greve contra a violência
à entrada da praça do Campo Pequeno
Amanhã quando for ter contigo
elementos da polícia de intervenção
serão espancados por civis no Estádio Nacional
Os magistrados serão acusados por réus
os alunos darão aulas aos professores
os contribuintes irão cobrar impostos às finanças
Os mortos abandonarão os cemitérios
e reivindicarão o direito à vida
Amanhã
porque vou ter contigo

Saturday, January 20, 2007

Vivência POÉTICA IV

Há quem tenha medo do silêncio
Há quem tenha medo de tocar na lua
Senti-me surpreendido
e passei com as mãos nos olhos
Alma absorvida
pensei no que não sabia
Há quem nem da sua mente
consiga ser amigo
DENTRO

De dentro avisto o teu corpo
Exteriormente toco o teu espírito
conheço-te!
CORAÇÕES PENHORADOS

A palavra que eclipsa as palavras:
REVOLTA
Só a morte pode decifrar
certos tipos de inocência:
a dor

Friday, January 19, 2007

O falo é uma linguagem
viável
logo possível
Quando faço amor
o meu falo
fala por mim
O falar é um fazer
A flor diz
a mão que a sustenta
o diálogo suspenso
com a outra mão

Thursday, January 18, 2007

Toda a presença é afirmada
mesmo ausente
esta é a dialéctica do ser
PRESSÁGIO

As ilusões arrancam-se das imagens
nunca dos próprios objectos
TEMPO 1

O sujeito da minha consciência
é o tempo
Para quando
rir das palavras?

Wednesday, January 17, 2007

Um ruído
mácula do silêncio
DEDICATÓRIA

À melhor das mães
a cada um de nós
PERGUNTA - RESPOSTA

Queres deixar de ser homem?
Usa uma farda
Foi ontem e é hoje
o tempo esse fugaz
A única metafísica possível
é a do tempo que não passa.

Tuesday, January 16, 2007

Somos homens
só porque temos voz?
ELEGIA II

Põe mais silêncio
onde só há imagem
ELEGIA I

Imagem dos gestos que traçamos
Amadurecemos pelas mãos
Aproximamo-nos da terra.
Somos.

Monday, January 15, 2007

Nenhuma busca é tão profunda
como a busca pela amizade
Os mortos
são os únicos seres
que não têm medo
Não é o sexo
nem o silêncio
que fazem a mulher ...
PENSAMENTO 7

Em coisas da poesia
toda a loucura é provável
porque toda a liberdade é possível

Sunday, January 14, 2007

PENSAMENTO 6

Poesia : preencher o silêncio
do que é realmente importante
ESCRITA

O mais importante
é o instante
Da leitura se faz ideia
Do despertar a compreensão
SINAIS

Na ideia se perde a memória
na acção se ganha a vivência
Com os olhos se fazem palavras
nas vielas do amor
e do mundo

Saturday, January 13, 2007

Em ti
principia
o princípio
de ti
O silêncio é também criador
Digo olhar: e vejo e sei
Em cada mulher
existe uma morte silenciosa de homem
ADIVINHA

Na luz das minhas mãos
se dilui
o lago das minhas realizações

Friday, January 12, 2007

DA DISTÂNCIA

A distância não muda
Muda a perspectiva de a absorver
Da letra nasceu a dor
Do alfabeto a liberdade
A liberdade não se inventa
adquire-se
só a imaginação fabrica
O corpo não é inocente
no entanto
o olhar pode ser distante

Thursday, January 11, 2007

Como não sabemos quando vamos morrer
é sempre uma incógnita saber
quando a vida
chega à sua segunda metade
Desconfia de todos aqueles
que falam como os guias turísticos
esses têm o desejo inconsciente
de serem políticos
Não há poesia
na vida militar
O homem é um ser poético por excelência
Na esperança dos olhos
as curvas do corpo

Wednesday, January 10, 2007

Não conheço nenhum muro que brilhe
nem nenhuma sala de espera com gente feliz
MURMÚRIO

Não há margens para o poema
nem cume possível para ele
embora tente utilizar as suas asas
e vá onde outros ficam no caminho
ORAÇÃO

As mãos juntas
aquecem
os olhos fixos
pois o silêncio bebe a colheita
A vida
nunca estabelece
uma relação unívoca

Tuesday, January 09, 2007

Toda a nossa vida
é o conjunto de partes mínimas
que nomeio acontecimentos
Repetir todos os queixumes no exílio do tempo
apesar de em todos os corações haver um lamento
Encontro maravilhado a vida
Apenas dela ter várias cicatrizes
Não ligo aos apóstolos
mas penso
em como havemos de tirar
os nossos filhos da cruz

Monday, January 08, 2007

Qualquer resistência é inútil
todas as coisa passam
até o tempo
Se conseguirmos falar numa só palavra
seremos felizes
A felicidade consiste nisso
a novidade do encontro
As exposições a que desejo assistir
situam-se na galeria da minha mente
INTERLÚDIOS

SAPERE

Saber é saborear

interlúdio: mús. Trecho de música instrumental que se entercala entre as diversas partes de uma longa composição. (dos Dicionários)

Sunday, January 07, 2007

ECO

Se me deres
a sombra
nenhuma rosa
caberá nesse espaço
Do nome
pouco há-de ficar
Do ser?
procura no limiar da madrugada
AMANHÃ

Falo de tudo
o que sou
o acordar o rosto o mar
outro corpo
um raio
e uma diuturnidade
acumulada
nas palavras
REFLEXO

Dual somos nós
vemo-nos como únicos
pois só o ponto de fuga interessa
o idêntico está na circunstância do penar
OMBRO

Se ergueres sobre mim
o teu rosto
não poderei dizer que atentarás
contra a minha liberdade
A revelação é interior
o emocional é passageiro
o silêncio é mais do que constante

Saturday, January 06, 2007

PASSAGEM

O mundo cega-me por vezes
nada sou capaz de me lembrar
da passagem das coisas
do acumular das vivências
como se mundo e tempo
fossem uma e a mesma coisa
um fluxo constante de emoções sentidas
FUNDIÇÃO II

Há segredos que não mostram
ser mais do que uma vazia repetição
O infinito consiste na diferença
A conversão em nada é especulação
A DUPLA ESCOLHA

Vivo no tempo da minha escolha
O haver a verdade por haver
e o ser
o nó na longa e dura estrada
roendo o homem sofre
como quem constrói um túnel
na noite interior da mente
O NECESSÁRIO

Não pretendo milagres
A ilusão não deve ser vivida
Aspirar à verdade
é fazer uma declaração de coragem

Friday, January 05, 2007

DESENCANTAR

Para quem tem uma vida cínica estúpida e vazia
nada melhor do que uma explosão de raiva e de vivência
Não é urgente medir o sentido do tempo
MOMENTOS

Olhar para as coisa é estar em paz
viver o momento
evitar a memória
através da solidão gritar
Abrir á força caminhos de fogo
esquecer as vozes
seguir a queda de água
com palavras de silêncio
Agora vejo
o rasgo no céu
que se aproxima pela noite
canais de sono
seguindo uma via mais clara
Regresso
encontro-me cada vez mais perto de mim
enfim
acordo
RECORDAR

Nada é tudo o que há
nada é competente
Todas as noites
a noite volta
e o que eu sou para mim é
REVOLUÇÃO

Quando o céu inteiro
Com os planetas
perseguiu o sol
um homem com letra maiúscula
acabou de nascer
O meu lugar
deixou de ser o centro do mundo

Thursday, January 04, 2007

INTROSPECÇÃO

Atingiremos a serenidade
Afastando-nos do mundo real
Quando prepararemos o assalto à morte?
Com que consciência a abordaremos?
O conhece-te-a-ti-mesmo é um olhar terapêutico
A LUZ E O TEMPO

Resisto à minha memória
do suor da cobiça
Despendo as risonhas homenagens
os rápidos abismos da noite
a luz é mais que o tempo
Só quem fica até ao fim
é que tem o privilégio do sonho
HABITO NUM OÁSIS

Nunca enumerei os enigmas da nossa civilização
Nunca acariciei uma palavra
Habito num oásis
o deserto é a minha fronteira
Eu sou o teu outro labirinto
NO BODY - NOBODY V

Poderei cumprir
à hora da partida
coisas que se afundam
lentas sombras
o resto da minha vida?
entrego a palavra
atada enigmaticamente
Não participarei no ritual
Não secarei as minhas lágrimas na praia
Deitarei sempre um último olhar
Há sempre uma nova música para ouvir
e sombras que se juntam nas costas
Não suplicarei a terra
e o sangue que jorrará
não será por minha iniciativa
O destino não é jogado aos dados
Poderei cumprir
aquilo que me pertence

Wednesday, January 03, 2007

NO BODY - NOBODY III

Nunca algemarei o cérebro
e o corpo manter-se-á impassível
perante a faca e o chicote
Não preciso de chamar por ti liberdade
O pensamento sacudirá o passado
Quando a revolução social acontecer
VIVÊNCIA POÉTICA XX

E ouvi o silêncio
Duas vezes
Foi a lua, conferindo o seu mistério
Para a noite denso e alto
É o meu corpo
só que é sempre o mesmo
de sonhar em comum
Acendi o mundo com a palavra
Não há sol nem gritos
O meu deserto
Onde posso estar só!
VIVÊNCIA POÉTICA XIII

Passei toda a noite a fabricar um sonho
Passeava e passeava
cheirando a rua
alta noite regressando para o vento
Não havia estátuas partidas
e eu
não pensava em quanto dinheiro ganhava
VIVÊNCIA POÉTICA

Nunca dormi uma noite até ao fim
Nunca fiquei nas ruas conhecidas
Olhei sempre para a manhã
Na noite de fragmentos
vivo verticalmente
O destino é uma medida

Tuesday, January 02, 2007

Vivência POÉTICA VIII

E difícil dar sentido
às perfeições de um louco
Quando a nossa vida
está cheia de almas que rugem
e se o ano passado
foi já há dez anos
Vivência POÉTICA II

Podemos sentir no ar
que a angústia foi anunciada
e reconhecer fases progressivas
de consciência
envenenando a atmosfera
e os meus sonhos
TESTEMUNHA OCULAR

Não há outro viver
que ser presente
SINAIS

Que alçapão me deixaste?
Anuncias-me dessa maneira
os sinais
da tua inesgotável vivência -
admiráveis subterrâneos
ao teu destino
essa face anterior

Monday, January 01, 2007

TU POR EXEMPLO

O visível e o invisível
confundem-se na mancha
que transparece e simboliza
O único bafoque admito
é o da minha memória
COMUNICAÇÃO

A memória faz-nos desistir de certas palavras
"nunca" "impossível"
mesmo com o sussurro
cúmplicedos videntes
A CADA MANHÃ

Rebentos e frutos
é o sentido de Maio
o céu pode ser falso
o peso da terra não
NA FRENTE

Eu dizia:
a solidão é brisa
e procuro
a urgência do instante
é fundamental